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Sinatra, o arroz de festa

Postado dia 16 de janeiro de 2017 por jornalismo

Desde que me tornei, além de crítico de cinema, DJ, pude perceber a dimensão do fenômeno Frank Sinatra. Afinal, não há uma festa de casamento em que seu nome não seja mencionado, ora em tom de devoção, ora em tom de ojeriza. A culpada: “New York, New York”, canção-tema do filme homônimo dirigido por Martin Scorsese em 1977. Na tela, quem cantava era Liza Minnelli, mas Sinatra a regravou em 1979 e desde então a canção composta por John Kander e Fred Ebb ficou definitivamente associada ao Blue Eyes.

O que para mim permanece um mistério é o motivo de “New York, New York” ter virado um clichê de repertório de casamento no Brasil. Os noivos mais jovens em geral detestam, mas seus pais amam. E aí não adianta o DJ explicar que a música está batida, que existem outras tantas canções excepcionais gravadas por Sinatra que poderiam substituir “New York, New York”. Se os pais quiserem, tem que tocar. Afinal, em geral são eles que estão pagando pelo casamento. E eu continuo, muitas vezes sem sucesso, sugerindo “Fly Me To The Moon”, “I’ve Got You Under My Skin”, “All The Way”, entre outras que soariam um pouco mais originais.

O ritual de um casamento diz que, na hora de começar a festa, depois que os noivos dançam uma música lenta (antigamente era valsa), é a vez de os pais entrarem na dança. Lembro o dia em que, na reunião para escolha do repertório, o noivo decidiu que os pais dançariam “My Way”, na voz de Sinatra. Eu argumentei que a letra era deprê, triste, não tinha a ver com o espírito de celebração de um casamento. A noiva concordou, eles disseram que iam pensar. Faltando poucos dias para a festa, o noivo me manda um e-mail dizendo que iria ser “My Way” mesmo.

Chegou o grande dia. Na hora em que a mãe da noiva reconheceu a música, parou de dançar e veio correndo na minha direção:

– Quem mandou você tocar essa música deprimente?

– O noivo.

O casamento mal havia começado e o Sinatra instaurou, em tempo recorde, a primeira crise familiar.

Por isso fica a dica aos noivos: conversem entre si sobre as escolhas musicais e depois peçam sugestão aos pais sobre quais músicas eles gostariam de dançar com vocês logo após a dança do casal. Não esqueçam que esse é um momento crucial da festa, em que todas as atenções estarão voltadas para vocês, portanto não custa nada evitar imprevistos. E, se for pra tocar “New York, New York”, mesmo que o casamento seja no Rio, em Búzios ou Itaipava, que todos aproveitem e se emocionem com a eterna canção do Sinatra!