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Saiba a diferença entre volume e textura na música da cerimônia

Postado dia 12 de fevereiro de 2018 por jornalismo

Por Fernando Vilela, da Ornamentus

Vou tratar na coluna Sonoro Sim deste mês de um tema que me surgiu para responder àquela pergunta bem frequente: “o espaço da minha cerimônia é grande. Quantos músicos eu preciso para ter um som que encha a igreja?”. Às vezes as noivas fazem esta pergunta pensando em volume, outras vezes em textura. É sobre essas duas propriedades do som que vou falar na coluna “Sonoro Sim” de fevereiro. Elas atuam juntas na construção de um ‘som adequado’ nesta relação do tamanho do espaço X quantidade de músicos.

Saiba mais: Mistura de repertório clássico com popular

Foto: Priscila Figueira
Foto: Priscila Figueira

O volume é velho conhecido de todos. Quantidade maior de som resulta em pressão sonora, possibilidade de ouvirmos sem ter que fazer esforço. O volume faz com que o som natural emitido pelos instrumentos ganhe projeção e chegue pleno onde as pessoas estão. Resolvemos fácil este quesito microfonando os instrumentos e espalhando caixas de som pelo espaço. A sonorização faz com que as pessoas ouçam com volume alto, mas não interfere no material sonoro que elas estão ouvindo, apenas na quantidade. Isso quer dizer que não adianta aumentar o volume porque 4 músicos não vão ter efeito 5, 6, 7. Um trio de jazz nunca vai soar big band porque o volume está mais alto.

Quando passamos a falar não da quantidade, mas da qualidade, ou seja, que tipo de sonoridade que será projetada, passamos de uma questão técnica (volume se resolve com equipamentos de sonorização) para uma questão propriamente musical, que é a textura. Na prática, isso significa entender se você quer uma sonoridade daquelas que botam duas asas na igreja, com coro grande, metais, percussão, ou se você quer muito antes beleza do que grandiosidade. Prefere a intimidade da textura de câmara com a individualidade dos timbres mais evidente, uma sonoridade mais aconchegante, ou a explosão da textura sinfônica?

Textura da orquestra

Na hora de pensar a textura da sua orquestra é muito importante considerar o espaço. Não apenas no sentido de ‘quantos músicos cabem ali’, mas principalmente que tipo de sonoridade cabe ali. A gente nem se dá conta, mas ao entrarmos numa igreja, capela ou espaço alternativo, nós já temos uma expectativa implícita de que tipo de sonoridade aquele espaço comporta.

E isso extrapola a música. Trata-se de um ‘bom senso’ estético que se estende aos elementos da decoração. Podemos, por exemplo, entrar no hotel Copacabana Palace e achar lindo aquele lustre de cristal em camadas que parece um bolo de cabeça para baixo com pingentes de cristal pendurados. O espaço do Copa comporta esteticamente aquele lustre, pois o salão é enorme e traz essa estética refinada e aristocrática. Imagine agora esse mesmo lustre em uma pousadinha aconchegante e charmosa na beira de um riacho… Esse lustre ia soar absurdo, sem propósito. Na pousadinha faz mais sentido investir em charme do que exuberância, concorda?

Foto: Reprodução Pinterest
Foto: Reprodução Pinterest

Pois a mesma coisa se dá com a textura da nossa orquestra: se colocarmos uma orquestra grande com coro, metais e percussão em uma charmosa capelinha, aquela sonoridade vai chocar esteticamente com o que o espaço ‘propõe’. O que soaria lindo e exuberante na Candelária (igreja enorme!), na capelinha borra, sai do trilho. O oposto também é válido: uma textura de câmara, que soa lindamente na capelinha, fica pequena, ‘magra’ e sem viço na Candelária. E não é por que as pessoas não vão ouvir direito. Isso, como vimos, resolve-se facilmente com microfones e caixas de som. É porque poeticamente não casa, é porque falta bom senso e adequação estética.

Foto: Reprodução Pinterest
Foto: Reprodução Pinterest

Para concluir, resumiria dizendo o seguinte: quando você se questionar quantos músicos são necessários para o seu espaço de cerimônia, pense apenas em textura. Tire o volume da jogada pois, seja qual for a sua orquestra, a sonorização resolve o volume para você. Pense em que resultado poético o espaço e sua personalidade exigem.

Para sonoridades mais aconchegantes, abusar das cordas e madeiras (violinos, flauta transversa, violoncelo) – quatro ou cinco músicos dão um resultado super bonito: piano, flauta, 2 violinos e violoncelo, por exemplo.

Para texturas mais grandiosas, além das cordas e madeiras bem servidas, é desejável que tenhamos metais (trompete, trompa), vozes abrindo em coro (soprano, contralto, tenor e barítono) e percussão.

O que chamamos de textura sinfônica é justamente a mistura dos timbres dos diversos naipes de uma orquestra (cordas, madeiras, metais, percussão, etc.). Mesmo que tenhamos poucos exemplos de cada naipe (um naipe é composto de vários instrumentos) a partir de 10 músicos já conseguimos erguer uma sonoridade que resolve espaços grandes: piano, flauta, 2 violinos, violoncelo, trompete, trompa, 2 cantores e percussão. E possibilidades muito maiores ainda! Mas, a partir daqui, você já tem pelo menos um exemplo de cada naipe que compõe uma orquestra sinfônica e tem, nessa mistura, a sonoridade grandiosa que caracteriza esse tipo de textura.


Eu sou Fernando Vilela, da Ornamentus, e todo mês estarei aqui na Coluna Sonoro Sim trazendo um tema relacionado ao universo da Música para Casamento. Mande pra gente suas dúvidas e sugestões! Quem sabe não vira assunto aqui na coluna?

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